Projeto de arquitetura do Paço de São Cristóvão tem a aprovação do Iphan
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) aprovou as soluções arquitetônicas apresentadas para o Paço de São Cristóvão, a sede do Museu Nacional/UFRJ, desenvolvidas pelo Projeto Museu Nacional Vive (cooperação entre UFRJ, UNESCO e Instituto Cultural Vale). O parecer do órgão indica que o projeto atende às principais diretrizes de preservação do bem tombado.

Ainda em 2023, o Iphan havia aprovado o conceito geral do projeto, que tem como premissa restaurar ou recompor a maior quantidade possível de elementos artísticos e históricos do palácio; conectar ainda mais o Museu aos jardins da Quinta da Boa Vista; e garantir requisitos de acessibilidade universal e sustentabilidade.
“Este é um passo muito importante, pois atesta a qualidade de um trabalho iniciado ainda em 2021 quando foi contratado o consórcio firmado entre os escritórios H+F Arquitetos e Atelier de Arquitetura, após uma concorrência criativa desenvolvida pelo Projeto Museu Nacional Vive. Com o projeto concluído e aprovado, o desafio agora é avançar com o planejamento das obras no interior do palácio a fim de entregar o monumento histórico restaurado por completo, com a mesma qualidade que estamos executando o restauro das fachadas e coberturas”, destaca Lucia Basto, gerente executiva do Projeto Museu Nacional Vive.
O Iphan estabeleceu um grupo de trabalho dedicado ao acompanhamento e aporte de contribuições à reconstrução do Museu. De acordo com Patrícia Wanzeller, superintendente do Iphan no Rio de Janeiro, “o processo de reconstrução do Museu Nacional é trabalho ainda mais delicado do que um simples restauro. Precisamos devolver à sociedade um prédio histórico, que manterá as marcas da tragédia, ressignificando o fato através da democratização do espaço, que contará com acessibilidade plena e novas exposições. É uma renovação da qual o Iphan se orgulha em poder contribuir”.

Para Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional/UFRJ, “conquistas como esta reafirmam o sucesso do projeto de reconstrução do Museu e que estamos fazendo bem o nosso ‘dever de casa’ para devolver o Museu à sociedade. Para isto, precisamos de mais recursos financeiros, de novos apoios que venham somar conosco nesse desafio que é reerguer o primeiro museu e a primeira instituição científica do Brasil”.
DESTAQUES DO PROJETO EXECUTIVO DE ARQUITETURA
Reforço da paisagem monumental: revitalização do palácio e seus jardins históricos; reforma do prédio anexo e construção de um jardim contemporâneo
O projeto restaurará a integridade do conjunto arquitetônico, destacando sua presença imponente no parque da Quinta da Boa Vista. O conjunto paisagístico e monumental será reforçado ainda com a remodelação do atual prédio anexo e a criação do Jardim Norte, um jardim contemporâneo de 3.100 m², complementar aos já existentes Jardim das Princesas (século XIX) e Jardim Terraço (século XX).

“Uma das maiores transformações do novo Museu Nacional é a forma como ele se relaciona com o entorno. Novos acessos e possibilidades de percursos irão proporcionar uma melhor articulação dos fluxos de pedestres e um acolhimento mais confortável dos visitantes. O novo Jardim Norte e o redesenho da praça frontal de acesso oferecerão mais qualidade e segurança a todos os usuários da Quinta da Boa Vista”, comenta Pablo Hereñu, arquiteto chefe do consórcio firmado entre os escritórios H+F Arquitetos e Atelier de Arquitetura.
Totalmente integrado ao palácio e aos jardins, o prédio anexo contará com auditório multiuso, salas administrativas, refeitório, espaços de apoio às exposições.

Sala do meteorito Bendegó e Escadaria Monumental
A entrada principal do Palácio continuará sendo a sala onde está o maior meteorito já encontrado do Brasil, o Bendegó. Nas paredes deste ambiente, o público terá a oportunidade de apreciar pinturas decorativas que, até antes do incêndio de 2018, estavam cobertas por camadas de tinta. Um exemplo é a pintura artística ilusionista que imita caneluras (estrias/ranhuras) de colunas, uma técnica de decorativismo muito difundida no século XIX.

A escadaria monumental de mármore de Carrara será inteiramente restaurada e protegida por uma claraboia, que já está em instalação. Sobre a escadaria, um esqueleto de baleia cachalote vai encantar os visitantes.

Ornamentos históricos revelados
Centenas de ornamentos históricos remanescentes, como medalhões, frisos, sancas, capiteis e molduras serão restaurados e reproduzidos a partir de moldes já executados.

Além disso, alguns elementos que estavam cobertos por argamassa serão revelados ao público, como pinturas decorativas em estêncil que permeiam todo o primeiro pavimento do bloco histórico. A técnica era muito utilizada para decorar ambientes na virada do século XIX para o XX.

Outro revestimento decorativo chamado Stucco Marmo, que imita pedra, também estava coberto por tinta e voltará a ser apreciado. São placas com aproximadamente 40×60 cm que imitam os mármores Rosso de Verona e Lapis Lazuli, e estão presentes nos perímetros de salas do primeiro pavimento.

Achados arquitetônicos incorporados ao circuito expositivo
No projeto aprovado pelo Iphan, as técnicas utilizadas para construir e ampliar o palácio ao longo de sua história serão reveladas aos visitantes do Museu. Isto se dará por meio da incorporação de achados arquitetônicos e arqueológicos ao projeto. O visitante poderá visualizar esses exemplares e acessar conteúdos sobre os sistemas construtivos tradicionais e a evolução do prédio.

Um dos achados que estará visível será a extremidade em semicírculo (abside) de uma capela que existiu no bloco posterior do palácio. Alguns ambientes terão alvenarias mistas, de pedras e tijolos aparentes. No térreo do bloco 2, por exemplo, algumas alvenarias do século XIX serão mantidas, já que plantas antigas confirmaram esta datação histórica. No bloco 1, preservação de pisos laterais datados das primeiras ocupações do palácio e laje composta por estrutura metálica, ambos do século XIX
Espaço Memória
Um ‘Espaço Memória’, com alvenarias expostas e no qual o público poderá observar vigas de aço que foram retorcidas pelo fogo será instalado no térreo.

Além de ser o local onde o incêndio de 2018 teve início, o ambiente permite a visualização de diferentes técnicas construtivas utilizadas ao longo da história do edifício. O Espaço funcionará como uma sala de acolhimento e introdução aos circuitos expositivos.
Nova cobertura no bloco 4
O bloco 4, que fica na parte posterior do Paço, é o que apresenta áreas mais amplas e livres para as novas exposições. Este setor contará também com espaços icônicos, compostos por grandes salas com pé-direito duplo, cobertura zenital sobre os prismas, favorecendo a exibição de grandes acervos.

Acessibilidade Universal
Adotando os princípios de acessibilidade universal, o projeto contempla o fluxo de pessoas com mobilidade reduzida integrado ao percurso principal do edifício. Evitar essa segregação é uma premissa muito importante para garantir equidade a todos os visitantes. Para isto, foi definido um conjunto de planos inclinados com baixo declive, que criam conexões com os ambientes, sem interferir na arquitetura histórica e nos elementos decorativos. O projeto insere ainda um conjunto de novos elevadores para circulação do público, sanitários acessíveis em todos os pavimentos, sala para acolhimento de pessoas neurodivergentes, maquetes táteis, pisos podotáteis e outros recursos de acessibilidade incorporados à arquitetura.